22 de nov. de 2009

Metáfora do meu tempo



Hoje é meu aniversário. Estranho completar de anos, este. Como boa sagitariana, joguei a flecha apontada pra um objetivo há alguns anos atrás. O que eu perseguia chegou. E agora, um vazio me toma. O presente é o presente. Realmente vivo na carne o que sempre pressenti fazer parte da minha essência: há que se caminhar, o que caminho é o que interessa. Só que eu apontei a flecha, cheguei ao fim, finalizei um caminho que me tomou por 14 anos.

Agora preciso de tudo novo de novo. E coragem para o desapego necessário de tudo que construí nesta caminhada. Passei o ano despachando minhas entranhas, revirando tudo. Me preparando para este momento. Despacho foi a palavra de ordem este ano e o maha-despacho vai se concretizar no dia 18 de novembro, quando abrir a nossa exposição. Ponto final. Dia 20 embarco pra India, intermezzo pro meu recomeço.

19 de nov. de 2009

Desobjetificar

Mauro, expurgar os excessos, e fazer disso um ato simbólico. bem despachex!

eu estou aqui com um milhão de idéias, e todas elas me apresentam empecilhos tecnológicos - os deuses não querem complicações no meu trabalho.

estive pensando em uma penca de pequenos players de vídeo, pendurados do teto, com cada vídeo mostrando um ato simbólico, ou flores, ou uma vela queimando, ou um pedaço de corpo. cada elemento do despacho em representacão virtual, para seguir a minha linha de trabalho com a questão digital etcetera. mas não deu certo - os players são caros, não funcionam bem, e na hora que descarregarem dá o maior trabalho pra ligar, carregar etcetera. um trampo.

depois pensei em um jardim zen (porque são ilhas de oferendas simbólicas de uma maneira muito mininalista como me explicou um designer japonês outro dia). Neles queria substituir as pedras simbólicas por vídeos, com um efeito meio david lynch. Cheguei a comprar os materiais, mas os vídeos novamente foram empecilho - as engenhocas não querem funcionar direito.

depois as fotos dos despachos que tirei o ano todo - mas não se sustentam como fotografias-obra, e sim como documentação. não é o meu intuito.

mas independente do que eu terminarei fazendo, esse processo todo de fazer despachos me fez abrir um diálogo comigo mesma, espiritualmente. um processo bom e positivo.

me falta objetificá-lo. ou será que basta ser pensamento para ser arte?

o que faz o despacho, no fundo, é acreditar na oferenda, acreditar que objetos possuam capacidade de se tornarem veículos de comunicação com outras dimensões.

a obra tá feita. está aqui, agora, neste momento.

10 de nov. de 2009

Auto-objeto energizado referente ou .. despacho!


Sem palavras bonitas ou citações edificantes ok pessoal ... vamos em frente ==>
Desde do início de 2008, comecei a pensar em cenas do meu cotidiano, coisas simples, materiais que fazem parte do meu dia a dia, e em como eu poderia utilizar/manusear esses materiais de modo que apresentassem interesse pictórico suficiente, para que, do meu modo, se transformassem em arte.

Meu interesse era, portanto, criar a partir do que eu já tinha à disposição sem adquirir nada de fora. Minha idéia inicial foi entrar no meu quarto de despensa, que virou estoque de tudo que é bagulho que eu um dia achei que não deveria jogar fora, e a partir destes materiais, montar algo que tivesse uma coerência suficiente para que eu achasse que se transformaria em algum auto-objeto referente ( e não um objeto auto-referente).

Por quê ?
Essa é uma resposta difícil, mas acredito que existe uma energia nas nossas coisas, naquilo que convivemos e manipulamos em nosso dia a dia. Apresentar esses objetos recontextualizados no mundo seria doar algo energizado pela vida e ambiente de um artista. É algo ligado a envio e recebimento de energia. Pra mim, isso tem uma pulsação, como um despacho.

O primeiro despacho que fiz, foi uma fotografia. Quando recebi convite do Buraco para participar do Verdadeira Grandeza, resolvi juntar objetos do meu dia a dia. O resultado foi uma silhueta com meus objetos inseridos. Chamei esse trabalho de despacho.

Desde então, tenho pensado sobre isso. Infelizmente o tempo curto não tem dado chance até agora para colocar em prática esse projeto despachudo, apenas alguns rascunhos e escritos, mas eu tenho fé que vou conseguir alguma coisa até a expo.

Caso contrário, tenho na manga um projeto pronto, da série "os maleáveis" . mas, por enquanto não quero falar sobre essa possibilidade...

8 de nov. de 2009

Naturezas Mortas





despachos taoístas, ilha de kusu, singapura.

a cor amarela e laranja predominante é simbólica da fortuna, dinheiro, prosperidade.
este tempo era inteiramente amarelo, chão, paredes, estruturas e oferendas.
At the top of the rugged hillock on Kusu Island stands three kramats (or holy shrines of Malay saints) to commemorate a pious man (Syed Abdul Rahman), his mother (Nenek Ghalib) and sister (Puteri Fatimah) who lived in the 19th century.

el texto

Toda exposição tem que ter um texto (TEM QUE??? porque "tem que"? - texto é cacoete de curador!) Mas como nós também despachamos curadores da nossa vida, então eles também recebem uma homenagem. Homenagem ao espírito do curador inexistente.

Resolvi não ir pelo lado linguístico, ou seja, usar a palavra "despacho" e seus muitos significados como conceito do texto. Eu acho que tem excesso de teoria francesa em textos curatórios e também tem excesso de Deleuze na arte contemporânea brasileira (embora eu seja mega-deleuze). Tô querendo dar um tempo das rizomas e escrever de outro jeito.

Vamos tentar: ao invés de seguir texto-arte-conceitual, definir o despacho, seus múltiplos significados, vamos à função do despacho - o que ele faz, o que é - talvez querendo ir pro lado metafísico da coisa (deleuze, sorry). Quis partir para outro lado, pelo lado que despacho é dádiva, que um despacho estabelece uma comunicação simbólica com o que quer que seja...pois todos os significados de despacho têm no fundo o objetivo de dar e de mobilizar energias.

Queria também fugir do academês e dos textos cabeção que eu não aguento mais ler pois não dizem nada. POde ser que eu também não esteja dizendo nada. Vou correr esse risco então, sem citações ou notas de rodapé.

Mas talvez esteja ainda bem careta, bem status quo. que piensan ustedes?

"A promessa da memória" ou "Que deuses são esses?" ou "Já é, já foi"

Todos precisamos de veículos para preservar e ativar a memória. Ouvimos os ecos do passado em prédios antigos, álbuns de família, cartas de amor, objetos que caíram em desuso, cheiros, sons, e sonhos recorrentes. É preciso igualmente estabelecer uma ligação com os espíritos, um elo entre os vivos e os mortos, uma abertura do presente com os tempos idos e aqueles que ainda estão por vir.

E assim nasce o despacho - um ritual que propicia uma ocasião estruturada para que a invisível alma dos mortos (ou dos deuses que pairam sobre nós) possam retornar ao seu local de origem - uma volta para casa - tendo estes objetos simbólicos como armadilha para que retornem, mesmo que apenas por um instante, para evitar que sua alma se desintegre. Aqui os objetos contém potencial de troca, mesmo que sejam apenas matéria inerte.

Mas objetos são apenas objetos. Os objetos despachóides incluem pessoas, e ações necessários para mobilizar a energia dos deuses a nosso favor, com o intuito de apaziguá-los em troca de uma promessa. Essa comunicação simbólica fortalece laços de afeto, restaura a alma, proporciona uma retificação moral e uma negociação de relações com aqueles entes que nos dão, em troca, uma espécie de identidade. Despacho é dádiva, mas, ironicamente, na nossa cultura burocrática, despachar também significa 'tirar de si' (a papelada), 'mandar adiante' (o processo jurídico), e rejeitar (os amores).

No entanto, um objeto por si só não constitui despacho. Se virmos a arte como uma coleção de objetos inertes residentes em seus pedestais ou enclausurados em suas molduras, estes não são sempre concebidos para estabelecer esta ligação esotérica. Fala-se em 'interação' com o espectador, mas permanecemos imóveis e
estupefatos diante de meros artefatos. Na falta de função, a arte perdura em um vácuo em que não sabemos mais porque fazemos arte ou para que servem os objetos que criamos - talvez arte seja puro entretenimento e basta.

Grupo DOC propõe, para a exposicão Despacho, que os treze artistas convidados meditem sobre essa questão, que dialoguem com os deuses que lhes servem e que façam de seus objetos mais do que meras colocações materiais. Que despachem sobre a tela branca oferecida e que transformem seus objetos e imagens em veículos, em estopims de diálogo com algo mais, querendo talvez entender que deuses são esses com quem nos comunicamos, por onde vamos, o que recebemos,
o que prometemos, para falar com quem, para dizer o quê?

4 de nov. de 2009

Enquanto isso, no ateliê ...