15 de set. de 2009

Suspension of disbelief



Pat,

Conheci Maya Deren este ano, em um curso sobre o "Ensaio Documentário" com a cineasta americana Barbara Hammer, em que exploramos várias maneiras de contar uma história verdadeira, um documentário, mas do ponto de vista do ensaio, da narrativa em primeira pessoa, etc. Uma das referências era justamente o "Meshes in the Afternoon", que, embora não seja um documentário per se, apresenta uma maneira distinta de explorar uma idéia cinematograficamente entre esse espaço tênue entre o real e o virtual, o espaço psíquico e o espaço histórico, e o que é e o que parece ser. Melhor ainda sendo uma mulher explorando não só o cinema, mas também o próprio corpo e a linguagem da imagem com o corpo.

Não sei porque, mas ao ver "Ritual in the Afternoon" e depois pensando no lado despachudo de Maya, lembrei de uma obra do Gary Hill chamada "Trance", que foi exposta no CCBB há alguns anos atrás numa exposição feita sobre os Yanomami. O vídeo de Gary Hill naquela exposição mostrava ele de cabeça para baixo, pendurado, com o corpo e os braços suspensos numa espécie de transe ritual - provavelmente inspirado nos rituais xamânicos da tribo.

Os trabalhos de Hill têm uma qualidade despachuda no sentido em que suas instalações são conjuntos de imagens que nunca são estáveis, sempre estão 'piscando', partes de corpos manifestando-se no espaço através de cortes, superposições, corpos em suspensão, alinhavados em uma trama de tempo e espaço.

O ponto em comum com Deren é que antes de fazer vídeos e filmes, era escultor e performance artist, e, como Deren, usou o filme inicialmente para capturar esses movimentos do corpo. Tanto como a dança faz parte do vocabulário de Deren, a escultura faz parte do vocabulário de Hill. Ambos capturam essas qualidades em imagens em movimento.

Eu adorei quando vi "Transe". E é bem capaz, que o meu trabalho para o nosso Despacho, em vídeo, se inspire na obra de Hill. Aliás, já é!

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